quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Dona Isabel Carcareja

Mascado âmago tumefacto
Corpo de Cristo apodrecido
Planante prisma negro refracto
Orgão envolvido em tecido
Segundo o macabro pacto
Assinado em sangue colhido
Oriundo de incógnito jacto
De quiçá um infante adormecido
Erguido de ignóbil substracto
Por um poder há muito esquecido.

Dona Isabel assim carcareja
Poderosa no seu avental
Com o seu facalhão maneja
Toda a população do quintal
Feitos frescos lençóis que areja
Na pura brisa matinal
Doces sangramentos almeja
Para uma refeição final.

Delicatessen tenro e infante
Que nem suspeita de sua sina
Sucumbe ao trauma marcante
E ao efeito avassalador da estricnina
Da navalha se faz amante
Com sangue alucina
Encarnado esporrante
Gracioso como uma bailarina
Num vaudeville aberrante
Que regará em benzina
O velho soalho flutuante
Testemunho à carnificina
De uma velha iletrada pedante
Estúpida, seca e campina
Avida consumidora de laxante
Cafeína, nicotina e morfina
Plástica carcaça andante
De tão arcaica até tem pátina.

O petiz de mão no coração
Arfa ansioso pelo seu destino
Promessa de libertação
Ao seu corpo andrógino
Encostado ao paredão
Sentido o medo no intestino
Exclama em declamação
Clamando sem tino
Aquando da mutilação
Do seu corpo franzino
De ténue cor de massa-pão
Que irá conhecer um fim repentino.

"Madre, Puta, Vil Salvadora!
Que pretendes tu de mim?
Toma-me os pulmões cor de amora
Devora o meu pútrido rim!
Lambe-me a alma exposta agora
Mostra-me o caminho para o fim!"

E eis que a monstra Isabel Grossa
Apunhala desdenhosamente a criança
Deixando no chão uma poça
Sítio consagrado à matança
Feito em cacos o benjamim de louça
Está concluída a vingança.

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