quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Gala de Rosa

Qual serena rosa passeia ela.
Deambula pela carpete vermelha
Vincando-a com saltos de mulher de meia porta.
Pequenos crânios triangulares no tecido púbico
Mascaram a face tentadora da gema virgem
Quais cristais num lago de alcatrão.
As suas copas de busto arrebitam à imagem de deleite:
Um copo de rum sentado num decote.
Chicoteia a sua amarga sede e exibe-se nú, provocante.
Passando os dedos envelhecidos no cristal
Que por tantos séculos alimentou bordéis e palacetes.
Chega novamente a carteira ao colo bafiento
E roça-se, debochada puritana, sem como nem porquê
Numa frágil adolescente que baila embriagada
Em prantos caninos ao barulho da via pública.
A doce Rosa lambe os lábios experientes
Sugando de si a atenção masturbatória até agora da maldita carteira.
A terapia psicológica não surtiu efeito, e Rosa sabe-o.
50 euros por semana jogados á rua com uma juvenil bêbeda!
"Raios me partam e ao meu apetite", surge-lhe na mente
Enquanto trinca o delicioso e infectado lóbulo furado artesanalmente.
Ela desce para o pescoço, sentido o delicado cheiro a haxixe
Acariciando as feições quadrangulares da tenra toxicodependente
Que desfalece ao áspero toque das velhas mãos,
Inocente belladonna putrefeita pela vida urbana sem sentido.
Violada pelo padrasto e abandonada pela progenitora,
Entregue à venda da sua meninice desde os cinco anos, a pobre puta,
Mal desconfia da sua mal-fadada sina, que a deu a Rosa,
Pronta para se deliciar na sua incógnita miséria mal paga.
Aperta-se o abraço das duas amantes desconhecidas
Enquanto os entumecidos seios se tocam quais pólos magnéticos,
Que colidem numa explosão de amor por encomenda
À medida que o sedutor beijo final se aproxima por entre tons de baton carmesim barato,
Lutas de camisas masculinas, jeans, e suor escorrido pelos corpos.
As sondas de esmalte aguçado penetram finalmente a venosa vulva oculta,
E um jorro de doce leite férreo enche a boca da apaixonada de meia-idade,
Fazendo o seu crânio estremecer até ao estribo, defunto mas agora palpitante
Como que renascido pela pouca vitalidade restante do pequeno corpo
Que sucumbe às suas mãos qual balão furado, voando cada vez para mais longe,
Ajudada no voo pelas substâncias que ingeriu, resistindo a nada,
Pronta para sublimar finalmente! Antes a Rosa que qualquer uma overdose!
O fluxo vermelho rouba-a da essência, atira-a para um túnel,
Sarjeta comum a qualquer mortal desonrado, ela sorri,
Solta um suspiro final que prolonga a seu deleite
Até os seus restos secos serem recolhidos por vagabundos circundantes
E aproveitados como grifados brinquedos sexuais,
Profanados até na tenra e gratuita morte.
E Rosa, tranquila e compassada, volta a encarar a turba,
Graciosa e glorificada madre astuta,
Que se prepara para pisar novamente a carpete,
Bajulada pela sua intemporal  aria de tragédia
Ritmada pelos caóticos flashes dos ocos fãs,
Feita imaculada virgem foi a devassa sedutora,
A impecável assassina, a virtuosa orientadora,
Que ascende agora ao palco lavada em íntegras lágrimas secas
Aplaudida pelos feitos da sua longa labuta.
Ergue as suas mãos ao doirado ídolo do reconhecimento e recebe-o,
Como prenda merecida, troféu das suas conquistas,
Ergue a sua voz em final manifestação honrosa,
Os dentes ainda rubros, e em despeito arrota!
"Agradeço este prémio a Deus!"

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