sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Dois tostões e uma carcaça

Ela transparece felicidade do esfíncter
Asperge ansiolíticos e tisanas infrutíferas,
Esguichos de calmaria nervosa
Palpitante como a sua lívida fronte
Quadro de uma lepra que persiste
Veneno lânguido que carcome,
O seu útero comunitário
Resseque ao girar de cada ponteiro.
Esgotado o confortável muco
Em incessantes masturbações devoradoras
De toda a sua pérfida alma
Por apenas dois tostões e uma carcaça
Rasga aberta a intimidade
Em prantos amorosos a silhuetas fálicas.
Engole água da fonte da vida
E masca a disforme vergonha em si
Que arrepende em nova aventura.
Viperina vulva, que queres tu de novo?
Sabe-lo bem, sabe-lo bem.
Nem três maços travam o insaciado suor,
Nem três moços acalmam meu calor.
O teu sentir não é mais que loucura
Droga, pura, dura que consumo
Inalo-te indiferente, desdenhoso.
Raiva de mim, da minha imundice,
Maria Madalena em pó de rouge,
Madame de mamas descaídas
Oferto-te a ruína pelo tenebroso recanto,
Depois terás glória no meu paraíso bocal
Desejo que a tua devassa mente se fecunde.
E eis que nasce uma fétida ideia:
FODER!

Pia Casa

Fresca petúnia ostracizada
Em ramagens ossificada
Deambula pelas margens ventriculares
De aterrorizadores mares
Em que perdeu a pútrida meninice.
Responde pelo nome de Judice,
Denominação que a defunta progenitora lhe dera
Naquela fatídica Primavera
Em que o pólen lhe mordia a meninge
Hoje, um esboço de um sorriso finge.

Pobre vaca, faltam-lhe dentes!

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Dona Isabel Carcareja

Mascado âmago tumefacto
Corpo de Cristo apodrecido
Planante prisma negro refracto
Orgão envolvido em tecido
Segundo o macabro pacto
Assinado em sangue colhido
Oriundo de incógnito jacto
De quiçá um infante adormecido
Erguido de ignóbil substracto
Por um poder há muito esquecido.

Dona Isabel assim carcareja
Poderosa no seu avental
Com o seu facalhão maneja
Toda a população do quintal
Feitos frescos lençóis que areja
Na pura brisa matinal
Doces sangramentos almeja
Para uma refeição final.

Delicatessen tenro e infante
Que nem suspeita de sua sina
Sucumbe ao trauma marcante
E ao efeito avassalador da estricnina
Da navalha se faz amante
Com sangue alucina
Encarnado esporrante
Gracioso como uma bailarina
Num vaudeville aberrante
Que regará em benzina
O velho soalho flutuante
Testemunho à carnificina
De uma velha iletrada pedante
Estúpida, seca e campina
Avida consumidora de laxante
Cafeína, nicotina e morfina
Plástica carcaça andante
De tão arcaica até tem pátina.

O petiz de mão no coração
Arfa ansioso pelo seu destino
Promessa de libertação
Ao seu corpo andrógino
Encostado ao paredão
Sentido o medo no intestino
Exclama em declamação
Clamando sem tino
Aquando da mutilação
Do seu corpo franzino
De ténue cor de massa-pão
Que irá conhecer um fim repentino.

"Madre, Puta, Vil Salvadora!
Que pretendes tu de mim?
Toma-me os pulmões cor de amora
Devora o meu pútrido rim!
Lambe-me a alma exposta agora
Mostra-me o caminho para o fim!"

E eis que a monstra Isabel Grossa
Apunhala desdenhosamente a criança
Deixando no chão uma poça
Sítio consagrado à matança
Feito em cacos o benjamim de louça
Está concluída a vingança.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Gala de Rosa

Qual serena rosa passeia ela.
Deambula pela carpete vermelha
Vincando-a com saltos de mulher de meia porta.
Pequenos crânios triangulares no tecido púbico
Mascaram a face tentadora da gema virgem
Quais cristais num lago de alcatrão.
As suas copas de busto arrebitam à imagem de deleite:
Um copo de rum sentado num decote.
Chicoteia a sua amarga sede e exibe-se nú, provocante.
Passando os dedos envelhecidos no cristal
Que por tantos séculos alimentou bordéis e palacetes.
Chega novamente a carteira ao colo bafiento
E roça-se, debochada puritana, sem como nem porquê
Numa frágil adolescente que baila embriagada
Em prantos caninos ao barulho da via pública.
A doce Rosa lambe os lábios experientes
Sugando de si a atenção masturbatória até agora da maldita carteira.
A terapia psicológica não surtiu efeito, e Rosa sabe-o.
50 euros por semana jogados á rua com uma juvenil bêbeda!
"Raios me partam e ao meu apetite", surge-lhe na mente
Enquanto trinca o delicioso e infectado lóbulo furado artesanalmente.
Ela desce para o pescoço, sentido o delicado cheiro a haxixe
Acariciando as feições quadrangulares da tenra toxicodependente
Que desfalece ao áspero toque das velhas mãos,
Inocente belladonna putrefeita pela vida urbana sem sentido.
Violada pelo padrasto e abandonada pela progenitora,
Entregue à venda da sua meninice desde os cinco anos, a pobre puta,
Mal desconfia da sua mal-fadada sina, que a deu a Rosa,
Pronta para se deliciar na sua incógnita miséria mal paga.
Aperta-se o abraço das duas amantes desconhecidas
Enquanto os entumecidos seios se tocam quais pólos magnéticos,
Que colidem numa explosão de amor por encomenda
À medida que o sedutor beijo final se aproxima por entre tons de baton carmesim barato,
Lutas de camisas masculinas, jeans, e suor escorrido pelos corpos.
As sondas de esmalte aguçado penetram finalmente a venosa vulva oculta,
E um jorro de doce leite férreo enche a boca da apaixonada de meia-idade,
Fazendo o seu crânio estremecer até ao estribo, defunto mas agora palpitante
Como que renascido pela pouca vitalidade restante do pequeno corpo
Que sucumbe às suas mãos qual balão furado, voando cada vez para mais longe,
Ajudada no voo pelas substâncias que ingeriu, resistindo a nada,
Pronta para sublimar finalmente! Antes a Rosa que qualquer uma overdose!
O fluxo vermelho rouba-a da essência, atira-a para um túnel,
Sarjeta comum a qualquer mortal desonrado, ela sorri,
Solta um suspiro final que prolonga a seu deleite
Até os seus restos secos serem recolhidos por vagabundos circundantes
E aproveitados como grifados brinquedos sexuais,
Profanados até na tenra e gratuita morte.
E Rosa, tranquila e compassada, volta a encarar a turba,
Graciosa e glorificada madre astuta,
Que se prepara para pisar novamente a carpete,
Bajulada pela sua intemporal  aria de tragédia
Ritmada pelos caóticos flashes dos ocos fãs,
Feita imaculada virgem foi a devassa sedutora,
A impecável assassina, a virtuosa orientadora,
Que ascende agora ao palco lavada em íntegras lágrimas secas
Aplaudida pelos feitos da sua longa labuta.
Ergue as suas mãos ao doirado ídolo do reconhecimento e recebe-o,
Como prenda merecida, troféu das suas conquistas,
Ergue a sua voz em final manifestação honrosa,
Os dentes ainda rubros, e em despeito arrota!
"Agradeço este prémio a Deus!"

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

25 de Dezembro

Repudia-me andar por entre a gente
O passo lânguido da populaça
Devolve-me à boca a minha última refeição
A plebe que dança qual vara
E exala o pungente perfume do pus
Envolve-me qual ventre materno de uma mula.
Deslizo pela oleosa vagina carcomida
Chegando à pudibunda púbis de uma prostituta preta
Limpando de mim as larvas e o sémen
De um venoso e bulboso pénis alheio.
Adiante.
Cirandando pela devassa viela
Prostra-se perante mim um inútil saco de carne
Um doirado e angelical infante
De marmórea e leitosa tez
Cujos áureos cachos ondulados
Cobrem um sublime e órfão azul
Qual menino Jesus em farrapos…
Que me apresso a esventrar
Berrando como um leitão
Asperge sobre mim um carmesim névoa
Cujo odor férreo me leva ao orgasmo.
Chego a casa.
Subo o vão de escada em ângulos agudos e obtusos
Evitando roçar o parasítico musgo das paredes
Chego ao que foi em tempos a ombreira de uma porta
Penetro com a minha oxidada chave
A vulva gasta e deformada da porta
Gentilmente violo-a com um rodar
E invado o meu próprio antro
Dou por mim com o gato afogado na pia
Presenteio-o com uma fúnebre chuva dourada
Regando-o a ele ao invés das quebradiças orquídeas
Inalo os doces cristais de pó-de-anjo
Que me evocam a memória do falecido querubim
A televisão vocifera um gorgolejante acorde consumista
Que me prontifico a silenciar
Com a biqueira da máscula bota que reveste o meu pé
Voam cacos aguçados e fosforentes
Urge em mim um desejo de enrabar o gato
O êxtase da minha investida
Expele das órbitas os olhos do felino
Enquanto réstias dos seus fluídos corporais
Escorrem pelos seus orifícios
Onde enterro os dedos para meu deleite.
Retido o felpudo invólucro da minha virilidade
E conduzido pelo tédio anulo em mim o falo
E retiro o meu strap-on…