quinta-feira, 5 de novembro de 2009

25 de Dezembro

Repudia-me andar por entre a gente
O passo lânguido da populaça
Devolve-me à boca a minha última refeição
A plebe que dança qual vara
E exala o pungente perfume do pus
Envolve-me qual ventre materno de uma mula.
Deslizo pela oleosa vagina carcomida
Chegando à pudibunda púbis de uma prostituta preta
Limpando de mim as larvas e o sémen
De um venoso e bulboso pénis alheio.
Adiante.
Cirandando pela devassa viela
Prostra-se perante mim um inútil saco de carne
Um doirado e angelical infante
De marmórea e leitosa tez
Cujos áureos cachos ondulados
Cobrem um sublime e órfão azul
Qual menino Jesus em farrapos…
Que me apresso a esventrar
Berrando como um leitão
Asperge sobre mim um carmesim névoa
Cujo odor férreo me leva ao orgasmo.
Chego a casa.
Subo o vão de escada em ângulos agudos e obtusos
Evitando roçar o parasítico musgo das paredes
Chego ao que foi em tempos a ombreira de uma porta
Penetro com a minha oxidada chave
A vulva gasta e deformada da porta
Gentilmente violo-a com um rodar
E invado o meu próprio antro
Dou por mim com o gato afogado na pia
Presenteio-o com uma fúnebre chuva dourada
Regando-o a ele ao invés das quebradiças orquídeas
Inalo os doces cristais de pó-de-anjo
Que me evocam a memória do falecido querubim
A televisão vocifera um gorgolejante acorde consumista
Que me prontifico a silenciar
Com a biqueira da máscula bota que reveste o meu pé
Voam cacos aguçados e fosforentes
Urge em mim um desejo de enrabar o gato
O êxtase da minha investida
Expele das órbitas os olhos do felino
Enquanto réstias dos seus fluídos corporais
Escorrem pelos seus orifícios
Onde enterro os dedos para meu deleite.
Retido o felpudo invólucro da minha virilidade
E conduzido pelo tédio anulo em mim o falo
E retiro o meu strap-on…



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